Já é tarde da noite, todos dormem ou ao menos se ocupam em alguma coisa, e quando eu penso nisso, não me sinto nem uma coisa pela qual os outros precisem se preocupar. Do meu aparelho de som sai quietinho o som daquele baixo, que com suas batidas convida minha alma a pulsar, fazendo rodopiar toda essa fauna inexplorada e asfixiante de sentimentos que eu tenho em mim, os solos de guitarra que surgem lentamente, mas com seu som estridente me arrepiam como se tocassem na ferida em aberto, e a ferida sangra no embalo do cantor, que une seus pesadelos aos meus, por um instante não me sinto só, só por um instante tenho alguém com quem dividir essa angustia, mas a ilusão se desmancha com o fim da canção, estou só. Sou mais um clichê. Sou o personagem triste daquele filme que eu vi, ou se era um livro eu também nem sei, só sei que eram como eu, porem eles são uma ficção, a tristeza deles só dura até o fim do longa, ou até a última pagina do livro, mas não eu, eu tenho que seguir além dos créditos e das paginas finais, eu tenho que continuar existindo. É isso, eu existo, mas não vivo. Não tenho motivos pra brigar com as horas ou tentar fazer o relógio voltar para trás, não, o tempo não é bom comigo, eu sinto que ele ri de mim, ele vai devagarinho, devagarinho, como se tivesse prazer de ver o meu desespero a cada segundo que se vai, não, o tempo não é bom comigo. Então eu tento me convencer.. ah eu tento.. eu tento me convencer que aquilo tudo precisa mudar, que eu preciso mudar, preciso viver como os outros. Os outros, ele são felizes, sempre sorriem, eles vivem, e a vida deles sempre dá tudo certo, é algo orgânico, enquanto a minha vida é uma flor de plastico, sem brilho, uma imitação. Não, não quero ser como eles, a felicidade deles é toxica pra mim, as pessoas me tiram o ar, me deixam com náuseas. Já é tarde, meu olhos já perambulam semi-serrados pelos cantos desse quarto ao qual eu pareço ser um prisioneiro, não por eu não ter as chaves, mas por que só aqui eu posso ser eu mesmo, esse resto condenado , mas ao menos aqui não sou julgado, eu me prendo a essas paredes, pois lá fora me assusta e me aterroriza, o mundo é um tirano, mas aqui sou soberano, e me sentencio a masmorra...
- Diego Codorna
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